O estilo desfaz o homem
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
Daqui a oito dias, no próximo domingo antes das 9h da noite, o presidente Luiz Inácio da Silva começará a vivenciar o passado, as urnas apontem a eleição de Dilma Rousseff ou de José Serra para lhe suceder na chefia da Nação.
É inexorável: eleito, as atenções se voltam para o novo, o próximo, aquele que de fato traduz mais que uma expectativa, representa o poder em si. Político baiano da velha guarda, Afrísio Vieira Lima tem a seguinte filosofia: "Ninguém atende ao telefone ou à porta perguntando quem foi, todo mundo quer saber quem é."
Pois é. Face à evidência de que a natureza humana não falha, o mundo político não foge à regra. No momento seguinte à proclamação do resultado, o País - quiçá o mundo - voltará toda a sua atenção para a fala, os planos, os gestos, as vontades, os pensamentos, a biografia, a família, os amigos e tudo o mais que diga respeito à pessoa que a partir do primeiro dia de 2011 dará expediente no principal gabinete do Palácio do Planalto.
Quando a gente vê um presidente tomar a iniciativa de se desmoralizar em público apenas porque não resiste ao impulso de insultar o adversário, a boa notícia é que falta pouco tempo para que esse estilo comece a fazer parte de referências pretéritas.
Abstraindo-se juízo de valor a respeito de Dilma e Serra, chegará ao fundo do poço que o presidente Lula se deu ao desfrute de frequentar na semana passada. Pela simples razão de que é impossível.
A novidade não esteve na distorção dos fatos - isso já faz parte da rotina. O ineditismo foi o desmantelo da farsa. Melhor dizer, das farsas, pois foram duas: uma engendrada com vagar, outra montada às pressas. Ambas malsucedidas, não duraram 24 horas.
No começo da semana, quando já se anunciara o adiamento do fim da sindicância da Casa Civil sobre Erenice Guerra para depois das eleições, eis que a Polícia Federal ressuscitou o caso da quebra do sigilo fiscal de parentes e correligionários do candidato Serra, anunciando a identificação do responsável: Amaury Ribeiro Jr., jornalista que à época do crime trabalhava no jornal Estado de Minas.
O PT tentou legitimar, assim, uma versão que fazia circular desde junho quando se descobriu que os dados fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, apareceram em um dossiê que chegou ao jornal Folha de S. Paulo como originário do PT.
A versão - não de todo inverossímil, diga-se - era a de que as informações haviam sido reunidas por Amaury a serviço do Estado de Minas para municiar Aécio Neves de dados contra José Serra, que, por sua vez, mandara investigá-lo.
Segundo um delegado e o superintendente da PF, Amaury dissera em seu depoimento que o trabalho visava a "proteger" Aécio. Antes da entrevista dos dois, o presidente da República anunciava que naquele dia a Polícia Federal teria novidades.
Pois no dia seguinte, sabe-se que nem Amaury estava a serviço do Estado de Minas na ocasião nem citara no depoimento o nome de Aécio Neves. Ou seja, o presidente Lula comandara uma falácia e a PF aceitara se prestar ao serviço, acrescentando que as investigações estavam encerradas.
Foi desmentida em seguida pelo Ministério Público, que avisou que a polícia não estava autorizada a determinar o rumo e os prazos das investigações.
Não satisfeito, depois da pancadaria promovida por petistas contra uma passeata do candidato tucano no Rio, o presidente resolveu acusar o adversário de ser um farsante. Precipitou-se, insultou o candidato em termos zombeteiros, desqualificou um médico de respeitável reputação, foi de uma falta de modos ainda pior que o habitual.
Isso tudo para quê? Para ser logo em seguida desmentido pelos fatos exibidos no noticiário de televisão com a maior audiência do País, o Jornal Nacional.
Tudo isso sem necessidade, pois pelas pesquisas sua candidata está com 12 milhões de intenções de voto de vantagem sobre o adversário.
Tudo isso pelo exercício de um estilo abusivo que não conhece limites, mas que daqui a oito dias começará a perceber que o poder passa e a ausência dele dói
.........................................................................................
Serra consegue mais um direito de resposta na campanha
Pela segunda vez, o ministro Joelson Dias, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), concedeu direito de resposta ao candidato à Presidência da República José Serra (PSDB), no programa de sua adversária, Dilma Rousseff (PT), pelo uso da expressão “caixa dois”. O tempo para a resposta será de um minuto.
Na primeira decisão, o ministro teve seu voto referendado pelo Plenário do tribunal ao considerar que houve ofensa no trecho da propaganda de Dilma que aponta "suposto caixa dois da campanha tucana". A expressão foi usada ao relacionar um suposto desvio de R$ 4 milhões da campanha do candidato Serra noticiado pela revista IstoÉ. Na ocasião, o direito de resposta foi concedido no total de oito inserções de 30 segundos na TV e outras quatro no rádio.
Na nova propaganda, a campanha de Dilma alterou a frase para “suposto caixa dois na campanha de Serra”. Para o relator, a propaganda tentou contornar a decisão judicial, mas se tornou ainda mais direta referindo-se textualmente ao próprio candidato.
A campanha da petista alegou que apenas se baseou em matérias amplamente divulgadas por importantes meios de comunicação. Mas, o ministro considerou que além de abordar os fatos noticiados pela mídia, a propaganda imputou ao candidato adversário, ainda que indiretamente, a prática de ato ilícito (caixa dois), o que não era citado na matéria jornalística. Com base em jurisprudência da Justiça Eleitoral, o ministro Joelson Dias entendeu que houve “deturpação da notícia, em mensagem, ofensiva e inverídica”.
Ele explica em sua decisão que a propaganda não se contentou apenas em citar o noticiário tendo inserido a expressão "caixa dois". "Não que o "caixa dois" tenha ou não ocorrido, mas que, ao menos as manchetes e textos jornalísticos veiculados durante a propaganda não respaldam tal afirmação". Em sua opinião, a propaganda foi além, sugerindo ao ouvinte ou o induzindo a concluir pela existência de um ilícito na campanha da coligação e candidato adversários.
Com essas considerações, assegurou o direito de resposta pelo tempo de um minuto no início do programa eleitoral de rádio da Coligação “Para o Brasil Seguir Mudando”, de Dilma Rousseff, em cada bloco do período matutino e vespertino.
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral
.....................................................................................
Serra é do bem
.